Um raio de Sol, que restou do Inverno
Brilhando nos dias do acaso
O Verão no Inverno, a Lua ao contrário
A tua mão, fazendo-se minha, no regato seco
Subindo o tempo, escutando o vento.
Um povo calado, calmo, fechado.
O mundo às costas, janelas abertas.
Um barco na areia
Retorno de viagens ao centro de um sonho
Compondo etapas duma terra árida.
Um monte, no meio de parte nenhuma
Brilhando sereno nesse fim do mundo
Tempo de viagens, tempo de miragens
Neste país de parte nenhuma
Abrindo o teu mapa, no meio do tempo
A seca queimando os pulmões da terra
Searas, no fim da viagem, planícies
O suor limpando a face, na aragem quente
Roupas brancas, trapos negros
Calor, no meio de parte nenhuma,
Escrevemos lonjuras na poeira antiga.
Aqui, vive-se longe de tudo, longe do Norte,
Na fronteira, no deserto, no fim da viagem
Dancemos uma valsa
A quatro mãos
Façamos amor
A noite inteira.
Estremeçamos, apertemos,
Façamos voar
Os nossos corpos,
Até ao alvorecer,
No doce movimento
Dos nossos rins
Façamos cantar
Os nossos dedos matreiros
Sobre as nossas peles nuas
Façamos rebentar o desejo
Que nos estrangula
Dancemos a valsa
Busquemos todos os tesouros
À sombra da tarde cristalina
A minha boca encontrará
Os acordes
Os meus lábios farão
Jorrar teu ouro
Na minha garganta,
Elixir divino
Dancemos a valsa
Voltas sempre ao mar
À amargura
dos primeiros passos.
O mar
Enche-te os olhos
O sal é solúvel
Os pensamentos
e as margens, também
As páginas desfazem-se
à mais pequena palavra
e as palavras espumam
na sua boca de areia.
O seu corpo imenso
Esconde-se na noite
Mas os seus lamentos
Ecoam em cada uma
Das tuas lágrimas.
Apareces do nada...e tudo buscas...
Sentes que a vida é tudo
Também a minha vida já foi tudo...
Agora sou eternamente jovem,
Mas o preço que pago é alto
Alto de mais...
É já alta madrugada,
É já tarde demais...
Percorrendo séculos,
E mais séculos de escuridão...
De trevas e solidão...
De que me adianta
A vida eterna então?
Se nem posso sentir
As batidas compassadas do coração...
Se já nem tenho o direito de amar...
Talvez seja isto o real motivo
De tanta maldição...
Dor, angústia, medo, raiva, solidão...
É tudo o que me resta...
Sinto a noite fria, noite negra,
sei que preciso alimentar-me,
e enquanto caço, e ouço os gritos,
tento beber
sem pensar
Pesadelos enquanto durmo,
com as pessoas que já matei,
em nome da minha fome, do sangue.
Parar? Acham que não tentei?
Cruzes e espadas, esperando pra matar,
em nome de um Deus hebreu,
que morreu para salvar.
É fácil viver,
Dizendo mentiras,
Sobre um céu azul,
Bebendo da cinza água,
Mas nem tudo é assim...
É fácil andar,
Apertando mãos e dizendo adeus,
Negociando com o diabo,
Ou inimigos invisíveis,
Mas nem sempre é fácil...
Esquecer
Esqueci como se esquece...
Quem eu não sou,
Quem eu não sinto,
Quem eu não era,
Quem eu tinha dentro de mim....
Aceitar é morrer
Aceitei
É preciso, necessário, urgente...
Que a música toque, levemente
E acorde, delicadamente,
Este coração
Sem pés, sem mãos, sem entranhas,
Por todos os palcos onde desfila
Vive seguro por fios.
Aos humildes, serve de espantalho
Bate com um pau no mau
Fazendo rir as crianças. TRAZ!!!
É alegria. E nos seus cantos
Faz-vos rir às gargalhadas
Mas é somente um boneco
Que gesticula.
Um arlequim sem alma,
Descartável.
Que torna as gentes ridículas.
Com fatos de polícia,
Um homem de palha, sem Deus,
Nem Diabo.
Que ama sem coração.
Que chora
sem lágrimas
Eu era um neófito
Que entrava na tua
Cidadela proíbida.
Eu vinha de lado nenhum
Tu eras a obra de arte
Uma Vénus calipígia,
Madonna de Rafael
De ti me fiz escravo,
Minhas mãos te eram destinadas
Meu corpo te era devotado.
No teu modesto quarto
Pequeno, sem vaidades
Havia um leito
Com lençóis de linho.
Debaixo do olhar
Dum Guevara impassível
Brincavas de irresistível
Incitavas-me a saborear
Os contornos da tua beleza
Desembaraçado de medos
Ousei, com olhar frontal
Colher os frutos agridoces
Duma paixão sem tabus.
Mas a alva chegou, rapidamente
Da tua cidadela proibida
Resta-me uma recordação
Que ainda me faz arrepiar
Escrevo o que quero!!!
Escrevo que posso
Junto as palavras como me apetece!!!
Clássicas ou não, versos brancos,
Sonetos, estrofes, panfletos, sonhos,
Baladas ou canções
Não importa que agradem ou não.
Sou dono do que nasce
Da minha pena de escritor
E tão pouco aceitarei submeter-me
A leis dum ditador
Deixo a quem me lê,
A liberdade de fazer seus
Meus escritos pagãos
Deixo a quem me lê
A liberdade de me escolher
Ou me banir
Mas não mudarei uma palavra,
Uma vírgula!!!
Decidi-o, cerrando dentes.
E não me fecharei nesta redoma
Onde outros procurarão
Corrigir-me
Trabalhar-me
Modificar-me
Alterar
As minhas ideias !!!